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Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson buscam explicar por que há países mais ricos e mais pobres e o que está por trás da desigualdade. Ilustrações de Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Ronbinson
Divulgação/Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach
O Prêmio Nobel de Economia de 2024 foi concedido a Daron Acemoglu (57), Simon Johnson (61) e James A. Robinson (64) por seus estudos sobre a diferença na prosperidade das nações. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (14).
Acemoglu, que nasceu na Turquia, e Johnson, do Reino Unido, são pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Já Robinson, também britânico, é da Universidade de Chicago. Seus estudos ajudaram a entender por que há desigualdade entre as nações e por que algumas prosperaram mais do que outras.
“Mais que isso, a diferença de renda entre os países mais ricos e mais pobres é persistente; embora os países mais pobres tenham enriquecido, eles não estão chegando perto dos mais prósperos”, explicou a Academia Real das Ciências da Suécia, responsável pelo prêmio.
Acemoglu e Robinson assinam juntos o livro “Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza”, traduzido para o português pela editora Intrínseca.
Segundo a Academia, os ganhadores do Nobel “adicionaram uma nova dimensão às explicações anteriores para as diferenças atuais na riqueza dos países ao redor do mundo”, mostrando que as diferenças regionais não podem ser analisadas sem antes entender quais instituições sociais foram implementadas em cada país.
“Instituições criadas para explorar as massas são ruins para o crescimento de longo prazo, enquanto aquelas que estabelecem liberdades econômicas fundamentais e um Estado de Direito são boas para tal.”
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Os estudos de Acemoglu, Johnson e Robinson
Para entender essa disparidade, os laureados avaliaram os impactos da colonização europeia do século XVI em diante, e perceberam a criação de dois principais tipos de colônias.
Em alguns países, os colonizadores chegaram com o objetivo principal de explorar os povos originários e os recursos naturais, gerando o que os pesquisadores classificam como “instituições extrativistas”.
Essas regiões costumavam ser as mais ricas, por conta de sua forte e rápida oferta de recursos econômicos para os colonos.
Em outros, eles formaram sistemas políticos e econômicos que visavam beneficiar os migrantes europeus naquelas regiões no longo prazo. Esses países eram os mais pobres.
No entanto, a criação de instituições que visavam o bem-estar das pessoas que ali chegavam para habitar — enquanto nos outros países as instituições eram criadas para facilitar e manter a dinâmica extrativista — acabaram gerando uma “reversão de riqueza”.
“A introdução de instituições inclusivas criaria benefícios de longo prazo para todos, mas as instituições extrativistas fornecem ganhos de curto prazo para as pessoas no poder”, explica o comitê do prêmio.
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Densidade demográfica determinou o tipo de instituição imposta por colonizadores
Os estudos de Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson revelaram que, quanto maior a população originária das regiões colonizadas, piores eram as instituições impostas pelos colonizadores.
Os países com as maiores populações de indígenas geralmente eram também aqueles que ofereciam maior resistência para a colonização.
No entanto, uma vez derrotados, os povos originários eram obrigados a trabalhar para os colonizadores. Essa dinâmica fazia com que poucos migrantes europeus se interessassem em migrar para o país com a intenção de trabalhar e construir uma comunidade benéfica para o local.
Assim, as instituições criadas nessas regiões “se concentravam em beneficiar uma elite local às custas da população em geral. Não havia eleições e os direitos políticos eram extremamente limitados”, explicou a Academia.
Em contrapartida, as colônias com uma população originária menor, embora oferecesse menos resistência para a colonização, não davam conta de toda a demanda por mão de obra. Isso fez com que os países colonizadores criassem “instituições econômicas inclusivas que incentivassem os colonos a trabalhar duro e investir em sua nova terra natal”.
“Por sua vez, isso levou a demandas por direitos políticos que lhes dessem uma parte dos lucros. Claro, as primeiras colônias europeias não eram o que hoje chamaríamos de democracias, mas, em comparação com as colônias densamente povoadas para as quais poucos europeus se mudaram, as colônias de colonos forneciam direitos políticos consideravelmente mais extensos”, destacou a Academia.
Nobel de Economia 2024 vai para Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson
Christine Olsson / TT / TT NEWS AGENCY / AFP
Essa dinâmica foi a responsável por gerar a reversão de riqueza entre os países, identificada pelos pesquisadores. Os países com as instituições mais fortes e inclusivas foram capazes de avançar de forma mais próspera que aqueles com instituições extrativistas, focadas nos ganhos dos colonos no curto prazo.
Os avanços tecnológicos trazidos pelas revoluções industriais também tiveram mais espaço para nascer e se desenvolver em países com as instituições fortes, provocando mais desigualdade econômica entre as nações, segundo os estudos.
Um exemplo analisado pelos pesquisadores é o de Nogales, uma cidade que tem parte localizada no Arizona, nos Estados Unidos, e parte em Sonora, no México. O clima da cidade em ambos os países é o mesmo, assim como os elementos culturais, o que faz com que as principais fontes para o enriquecimento sejam as mesmas.
No entanto, a região nos Estados Unidos, que foi colonizado pelos ingleses em um esquema de “colônia de colonos” — ou seja, onde os migrantes trabalhavam e viviam — é mais próspera em todas as áreas. Já a região mexicana, que foi colonizada pela Espanha em uma lógica extrativista, e que hoje convive com o crime organizado, é mais repleta de incertezas e tem menos riquezas.
Gráfico mostra a reversão de riqueza ao longo do tempo, principalmente com a Revolução Industrial, que foi mais presente nos países que eram “colônias de colonos”
Johan Jarnestad/The Royal Swedish Academy of Scienses
A mortalidade dos colonos também foi um fator determinante para o desenvolvimento de cada tipo de instituição dentro das colônias, mostraram os estudos.
“Os lugares onde as doenças eram mais perigosas para os europeus são onde agora encontramos sistemas econômicos disfuncionais e a maior pobreza, bem como a maior corrupção e o estado de direito mais fraco. Uma razão importante para isso são as instituições extrativistas que os colonizadores europeus estabeleceram ou escolheram manter, se isso os beneficiasse”, pontuou a Academia.
Por fim, os pesquisadores demonstraram que a democracia também é um fator essencial para a possibilidade de um país desenvolver sistemas econômicos benéficos para toda a população no longo prazo.
As elites governantes que ficaram no poder conforme as colônias cresciam eram as mais beneficiadas pelas instituições impostas naqueles locais. A insatisfação da população com suas condições econômicas, porém, e a incapacidade das elites de fazer “promessas confiáveis” fizeram com que muitos países migrassem para os sistemas democráticos.
Veja os vencedores dos últimos 10 anos do Nobel de Economia:
2023: Claudia Goldim (Estados Unidos), por seus estudos sobre mulheres no mercado de trabalho
2022: Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig (Estados Unidos), por seus estudos sobre bancos e sua relação com as crises financeiras.
2021: David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens, por seus estudos para entender os efeitos de salário mínimo, imigração e educação no mercado de trabalho.
2020: Paul R. Milgrom e Robert B. Wilson (Estados Unidos), por seus trabalhos na melhoria da teoria e invenções de novos formatos de leilões.
2019: Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer (Estados Unidos), por seus trabalhos no combate à pobreza.
2018: William D. Nordhaus e Paul M. Romer (Estados Unidos), por seus estudos sobre economia sustentável e crescimento econômico a longo prazo.
2017: Richard Thaler (Estados Unidos), por sua pesquisa sobre as consequências dos mecanismos psicológicos e sociais nas decisões dos consumidores e dos investidores.
2016: Oliver Hart (Reino Unido/Estados Unidos) e Bengt Holmström (Finlândia), por suas contribuições à teoria dos contratos.
2015: Angus Deaton (Reino Unido/Estados Unidos) por seus estudos sobre “o consumo, a pobreza e o bem-estar”.
2014: Jean Tirole (França), por sua “análise do poder do mercado e de sua regulação”.
2013: Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre os mercados financeiros.
O prêmio
O prêmio de Economia, oficialmente chamado de “Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel”, foi criado em 1968 e concedido pela primeira vez em 1969.
A homenagem não fazia parte do grupo original de cinco prêmios estabelecidos pelo testamento do industrialista sueco Alfred Nobel, criador da dinamite. Os outros prêmios Nobel (Medicina, Física, Química, Literatura e Paz) foram entregues pela primeira vez em 1901.
O Nobel de Economia é o último concedido este ano. Os prêmios de Medicina, Física, Química, Literatura e Paz já foram anunciados nos últimos dias.
Embora seja o prêmio de maior prestígio para um pesquisador em economia, o prêmio não adquiriu o mesmo status das disciplinas escolhidas por Alfred Nobel em seu testamento de fundação (Medicina, Física, Química, Paz e Literatura) – seus detratores zombam dele como um “falso Nobel” que representa economistas ortodoxos e liberais.
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