Mesmo sem aplicação de multas, testes de fiscalização de velocidade média já reduzem flagrantes de excessos; entenda
Eco Rodovias testa radares com a tecnologia na BR-050 em Uberaba (MG). Inmetro e governo ainda precisam regulamentar equipamentos. Imagem de radar de velocidade média na cidade de Curitiba, no Paraná
Lucília Guimarães / Prefeitura de Curitiba
Os radares de velocidade média ainda não podem multar, mas blitz educativas já apontam redução no número de flagrantes de alta velocidade em trechos de rodovias.
A Eco Rodovias testa os radares na BR-050, em um trecho de 11 km na cidade de Uberaba (MG), que apresenta um alto índice de mortes por acidentes de trânsito.
De acordo com a concessionária, o número de flagrantes caiu 22,5% na comparação entre 15 dias antes e 15 dias depois da realização de blitz educativa junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF).
“A gente pegava esse motorista, levava para a tenda e explicava o projeto e instruía [sobre segurança no trânsito]. Hoje, o radar de velocidade média é voltado para campanhas de segurança viária aqui na 050”, conta o gerente de operações da Eco050 e da Ecovias do Cerrado, Bruno Araújo Silva.
O que falta para começar a multar?
Radares flagram motoristas em velocidade muito acima da média nas avenidas de Ribeirão
Os radares implementados na BR-050 estão em fase de testes. Para multar os motoristas, os equipamentos precisam ser regulamentados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e ser incluídos no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
A inclusão na lei depende de aprovação pelo Congresso Nacional. Tramita na Câmara um projeto de lei do deputado Jilmar Tatto (PT-SP) que adequa a velocidade máxima permitida em vias urbanas e também acrescenta, no CTB, a velocidade média como um mecanismo de fiscalização.
“Quando você tem velocidade instantânea [como funciona hoje], o que você tem é uma redução de velocidade pontual e, depois que o motorista passa daquele ponto, ele volta a acelerar de forma incompatível com a via”, afirma a ativista Ana Carboni, que atua pela aprovação do projeto.
Silva, da Eco Rodovias, conta que a experiência com os novos radares mostra que os motoristas abordados por exceder a velocidade média não seriam multados pela velocidade instantânea.
“[O motorista] não tomou multa porque o radar de velocidade média não multa ainda, mas ele também não tomou multa nos outros radares [instantâneos], porque ele freava no radar para não tomar multa, acelerava de novo, freava de novo no segundo radar”, diz o gerente de operações.
🚗 Hoje, os radares de velocidade em operação só multam quem passar acima da velocidade permitida em um ponto da rodovia, onde o equipamento estiver instalado.
🚗 No caso da velocidade média, dois radares marcam o início e o final de um trecho da via. O radar captura a entrada do veículo no trecho e sua velocidade.
🚗 Quando o veículo passar pelo segundo radar, o sistema vai registrar quanto tempo levou para percorrer a distância e calcular a sua velocidade média no trecho – que deve estar dentro da velocidade permitida na via.
“Na hora que a gente homologar e começar a multar, o comportamento vem. E esse comportamento reflete na redução de acidentes de fato”, afirma Silva.
‘Desacelere’
Alinhado às diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU), o governo tem a meta de reduzir à metade as mortes no trânsito até 2030. Em 2023, esses acidentes mataram 35,9 mil pessoas.
O secretário Nacional de Trânsito, Adrualdo Catão, afirma que a pasta vai tratar as campanhas nacionais para endereçar fatores de risco associados aos acidentes.
“Todas as campanhas estarão voltadas para um tema específico que é o fator de risco. E, na opinião de muitos especialistas, o principal fator de risco, que talvez se a gente o atacar a gente tem uma condição de diminuir mesmo [o número de sinistros], é a velocidade”, destaca.
Por isso, a campanha de 2025 vai ter a frase “Desacelere. Seu bem maior é a vida.” como slogan.
A Senatran apoia tecnicamente o projeto de lei que pretende incluir a velocidade média no código de trânsito. Mas o secretário destaca que a discussão precisa ser feita no Congresso.
“[Discutir velocidade] não significa que vai se passar a fiscalizar mais. Tem uma série de outras formas de fazer [sem multa]”, defende o secretário.
Nas cidades, Catão cita extensões na largura do meio-fio, ilhas de refúgio de pedestres e elevação de trechos da via, na mesma altura da calçada, como formas de mudar o comportamento dos motoristas, já que as intervenções exigem mais atenção.
“A segurança viária, as mortes no trânsito, é uma epidemia evitável se a gente tomar medidas de segurança viária, de redução de velocidade, a gente consegue reduzir isso. Fortaleza é uma cidade no Brasil que já conseguiu”, declarou Carboni.
A readequação da velocidade nas vias urbanas em Fortaleza, capital do Ceará, reduziu o número de acidentes em cerca de 23%, de acordo com dados da prefeitura.
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