Lecar: empresário promete fábrica para um carro híbrido flex brasileiro até 2026
Flávio Figueiredo de Assis tem investido do próprio bolso no projeto de produção de seu carro, o Lecar 459, que começou como um elétrico puro, mas foi recentemente revisto para uma plataforma de propulsão híbrida. Fábrica será no Espírito Santo. Flávio Figueiredo de Assis, fundador da Lecar, durante apresentação do Lecar 459, carro híbrido flex nacional, em São Paulo, SP
REUTERS/Alberto Alerigi Jr
Uma fábrica de carros híbridos flex desenvolvidos no Brasil e com início de produção previsto para 2026 é o que promete a futura montadora brasileira Lecar, que exibiu à imprensa na noite de quinta-feira seu primeiro protótipo, marco inicial de um investimento projetado em R$ 870 milhões.
A montadora, criada pelo empresário capixaba Flávio Figueiredo de Assis, vai disputar um mercado tradicionalmente dominado por marcas globais e que, apesar de ter um público consumidor tido como amante de carros, nunca conseguiu ter uma marca nacional que se perpetuasse.
Depois de tentativas de empresas locais como Gurgel e Troller de se firmarem em um mercado disputado por Stellantis, Volkswagen, General Motors, Toyota e Hyundai, Assis tem investido do próprio bolso no projeto de produção de seu carro, o Lecar 459, que começou como um elétrico puro, mas foi recentemente revisto para uma plataforma de propulsão híbrida.
Oriundo do mercado de meios de pagamentos e sem atuação no setor automotivo, Assis vendeu sua empresa de cartões alimentação Le Card em 2022 e desde então tem reunido apoio para o projeto que chegou a ter até a catástrofe climática do Rio Grande do Sul como obstáculo no desenvolvimento do carro, que acabou sendo transferido de Caxias do Sul (RS) para a região do ABC, em São Paulo, em junho.
“O Brasil faz avião e não faz carro?”, comentou o empresário, durante a apresentação do novo desenho do carro na quinta-feira e se referindo à Embraer. “Se o Ozires Silva conseguiu fazer avião eu consigo fazer carro porque também sou brasileiro”, acrescentou, citando o co-fundador da fabricante brasileira de aeronaves.
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A apresentação contou com participação de autoridades do Espírito Santo, incluindo o prefeito da cidade de Sooretama, Alessandro Torezani, que receberá a fábrica da Lecar e fica a cerca de 100 quilômetros da capital do Estado, Vitória.
O Espírito Santo, que não possui uma montadora de automóveis, diferente dos vizinhos de região Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, concedeu isenção de ICMS para a Lecar pelo prazo de 10 anos, disse Rodrigo Rumi, vice-presidente de marketing e vendas e oriundo de montadoras instaladas no país como GM, Toyota e Caoa Chery.
Segundo Rumi, desde o início do projeto, a Lecar acumula cerca de 300 “contatos” de interessados no projeto, “entre possíveis clientes, fornecedores e concessionários”. A companhia relançou seu site na quinta-feira para marcar a exibição do novo desenho do carro: um coupê de linhas retas e design que segue tendências do mercado nacional, como faróis estreitos e traseira elevada.
Assis afirmou que o preço do carro será de R$ 150 mil e ele terá autonomia para cerca de 1 mil quilômetros graças à combinação de propulsor elétrico, que traciona as rodas, com um motor à combustão flex que alimenta um gerador. Este gerador, por sua vez, abastece a bateria que fornece a energia que faz o motor elétrico movimentar o carro.
O projeto é diferente de um modelo híbrido tradicional em que o motor a combustão também traciona o veículo além de recarregar a bateria do propulsor elétrico.
O empresário diz que o Lecar 459 terá um índice de nacionalização de 83%, elevado para um projeto iniciante e em um mercado em que novos entrantes costumam recorrer a grandes importações de componentes antes de avançarem com produção local.
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O motor elétrico do carro, de 163 cavalos, será fornecido pela chinesa Hepu Power e a bateria de ferro lítio de 18,4 kWh será da também chinesa Winston. O gerador é da brasileira WEG e o motor à combustão da Horse, uma joint-venture da Renault com a chinesa Geely.
Além dos fornecedores do carro, a Lecar tem como um dos principais parceiros do projeto a unidade brasileira da italiana Comau, especializada em montagem de sistemas de automação industrial.
O projeto da fábrica, disse um orgulhoso Assis em uma apresentação em que a família do empresário também estava presente, incluindo sua filha de pouco mais de 1 ano, será construído em um terreno de 460 mil metros quadrados, às margens da BR-101, e prevê uma linha de montagem instalada em uma reta de 650 metros.
A capacidade será de até 120 mil carros por ano e os veículos montados serão armazenados em um pátio instalado diante da entrada da fábrica. “Uma vitrine nossa”, disse Assis.
Dos R$ 870 milhões orçados em investimentos até o início da produção em 2026, R$ 630 milhões serão dedicados à linha de montagem, disse Assis, que não revelou quanto do total dos recursos sairão do próprio bolso ou quanto já injetou na empreitada.
Além dos recursos do empresário, a Lecar afirma que “analisa, ainda, a busca de financiamentos junto à Sudene, BNB, Bandes, Finep e BNDES”. Atração de investidores estrangeiros também não está descartada, disse Assis.
A próxima meta, afirmou o empresário, é apresentar um novo protótipo, agora com as novas linhas do carro híbrido apresentadas na quinta-feira, até fevereiro de 2025.
“Se não acompanharmos os chineses, vamos ser atropelados”, disse o empresário, se referindo à forte entrada de montadoras da China no mercado brasileiro.
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