Haddad diz que comunicação do governo 'às vezes peca' e ajuda a piorar expectativas
Declaração do ministro da Fazenda ocorre em meio a um movimento atípico nos mercados, com Ibovespa em alta e dólar avançando sobre o real. Ministro da Fazenda Fernando Haddad.
TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta sexta-feira (30) que a comunicação do governo “às vezes peca por detalhe” e que isso tem colaborado com a deterioração das expectativas do mercado financeiro.
Haddad participou de um painel no Expert XP, evento do mercado financeiro, em São Paulo.
“A sua pergunta é: ‘O que está acontecendo no mercado financeiro que, com todos os indicadores melhorando, tem havido uma deterioração das expectativas?’ . Uma parte acho que é a comunicação do governo, que às vezes peca por detalhe, coisas que a gente poderia superar com certa facilidade”, afirmou o ministro, após ser questionado sobre o assunto.
A declaração de Haddad ocorre em meio um movimento atípico nos mercados. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, teve uma alta de 6,54% em agosto, maior avanço em nove meses. Enquanto isso, o dólar fechou o mês praticamente no zero a zero, com uma leve queda de 0,38% em relação a julho, mas ainda em patamares muito elevados, cotado a R$ 5,6325.
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Em sua fala, o ministro da Fazenda também atribuiu a turbulência dos mercados à transição do Banco Central do Brasil (BC). O mandato do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, se encerra no fim do ano. Para o lugar dele, o presidente Lula (PT) confirmou, na última quarta-feira (28), a indicação de Gabriel Galípolo.
Galípolo é o atual diretor de política monetária do BC, e ainda precisa ser sabatinado e aprovado pelo Senado Federal para assumir o cargo em janeiro.
Indicação de Galípolo acontece sob pressão da inflação e incerteza sobre juros
“Há também a transição do Banco Central. Queira ou não, esse é o primeiro governo que está passando por duas transições. A do [ex-ministro Paulo] Guedes para mim e a do Roberto Campos [Neto] para o Galípolo, com dois anos de intervalo e com o BC autônomo”, continuou Haddad.
A Lei de Autonomia do Banco Central, sancionada em 2021, define que o presidente do Banco Central terá mandato de quatro anos, não coincidente com o do presidente da República. Os diretores da instituição também passaram a ter mandatos.
Para Haddad, a deterioração das expectativas do mercado também tem sido reflexo de questões como a mudança do regime de meta para a inflação, que passou a ser contínua, e de incertezas a respeito das medidas fiscais do governo.
“Mas estou bastante tranquilo que essas coisas vão convergir e vai chegar um determinado momento em que os fundamentos vão falar mais alto do que a especulação ou a incerteza que ainda paira no horizonte”, disse.
O ministro declarou ainda estar confiante de que “vamos terminar o ano bem, com a bolsa subindo e com o PIB [Produto Interno Bruto] reajustado para cima, com baixo desemprego e inflação dentro da meta”.
Falas sobre Campos Neto
Questionado sobre as críticas do governo contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto, Haddad declarou que “falar sobre juros é normal no mundo inteiro”.
“Penso que, em uma democracia, assim como o meu trabalho é avaliado todo dia pela imprensa, há um certo tabu em relação à política monetária, como se ela fosse técnica e a política fiscal, não. (…) E eu acho meu emprego bem mais difícil do que o dele [Campos Neto]. Eu quase me indiquei para a presidência do Banco Central para trocar de cadeira. Acho mais fácil lá do que meu trabalho”, disse.
O ministro afirmou ainda que nunca viu “ninguém reclamar de ser presidente do Banco Central” e que “aguentar um pouco de crítica faz parte”.
“Eu não me sinto atacado pelas críticas que são feitas à política fiscal ou ao governo. Penso que é natural e deveria ser visto assim, como algo da vida pública”, concluiu.
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