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Ex-ministro Fazenda, da Agricultura, do Planejamento e ex-deputado federal morreu na madrugada desta segunda-feira (12), aos 96 anos. Delfim Netto em foto de 2015
WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO
Economistas pelo país prestam homenagens a Antônio Delfim Netto, ex-ministro Fazenda, da Agricultura e do Planejamento e ex-deputado federal, morreu na madrugada desta segunda-feira (12), aos 96 anos.
Ele estava internado desde o dia 5 de agosto no Hospital Albert Einstein, por conta de complicações em seu quadro de saúde.
Veja abaixo as manifestações de economistas brasileiros.
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Delfim Netto morre aos 96 anos
VALDO CRUZ: ‘Você já leu o Delfim hoje?’
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
“O professor Antônio Delfim Netto merece respeito por ter se dedicado ao progresso econômico brasileiro. Meus sentimentos aos amigos e familiares.”
Aloizio Mercadante, presidente do BNDES
“Recebo com tristeza a informação sobre a morte do economista Delfim Netto. Fomos deputados no mesmo período histórico e estivemos na Comissão de Economia, espaço público em que havia um debate qualificado sobre as políticas de desenvolvimento nacional.
Apesar das divergências políticas e no próprio debate econômico, que tivemos ao longo da vida, Delfim Netto sempre teve compromisso com a produção e com o crescimento da economia. Mesmo tendo sido um ministro destacado do regime militar – liderou o chamado “milagre brasileiro” -, Delfim apoiou o governo Lula em momentos importantes e desafiadores.
Como professor de economia, Delfim sempre teve profundo compromisso com a FEA-USP, onde fiz minha graduação. Neste momento de tristeza, manifesto meus sentimentos de pesar para todos amigos e familiares de Delfim, especialmente filha e neto.”
Ministério da Fazenda
“O Ministério da Fazenda manifesta pesar diante do falecimento de Antônio Delfim Netto. Professor, economista, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento e diplomata, Delfim Netto foi um referencial em diferentes fases da história do país. Por décadas, fomentou debates essenciais sobre a condução da política econômica brasileira. Neste momento de luto, os servidores do ministério da Fazenda manifestam respeito e solidariedade aos familiares e amigos de Delfim Netto.”
Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
“Delfim Netto foi um dos mais importantes formuladores da política econômica brasileira nas décadas de 1960-80. Após este período, manteve presença marcante no debate público, tendo como marcas a sagacidade, inteligência e inesquecíveis doses de ironia. Independente das divergências acerca de seu papel político e do legado dos planos de desenvolvimento que formulou, o Brasil perde hoje uma de suas referências no debate econômico nacional.”
Banco Central do Brasil
“Mente livre de amarras, o economista Delfim Netto marcou sua vida profissional e acadêmica pelo pioneirismo. Sua tese de livre docência sobre O Problema do Café no Brasil marcou época e ainda é estudada por economistas da nova geração.
O ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, costumava dizer que, neste trabalho, Delfim empreendeu uma tentativa original de aplicar a um evento histórico métodos de análise econômica e quantitativa, colocando-se na fronteira do pensamento econômico em um ambiente repleto de adversidades.
No setor público, Delfim devotou seus maiores esforços para garantir um crescimento sustentável e de longo prazo para o Brasil. Atuou na gestão da economia brasileira em contextos desafiantes, como o da crise do Petróleo nos anos 70 do Século XX.
A Diretoria do Banco Central expressa seu pesar pelo falecimento do economista e agradece a Delfim por suas contribuições ao pensamento econômico e à economia brasileira. Aos familiares e amigos de Delfim, deixamos toda nossa solidariedade neste momento de dor.”
Ilan Goldfajn, presidente do BID e ex-presidente do BC
“Delfim Netto deixou um importante legado, seja como acadêmico, professor, ex-ministro ou ex-deputado, influenciando de forma relevante e a história do #Brasil e o debate público.”
Luis Paulo Rosenberg, economista
“Foi a pessoa mais influente na minha vida. Ele era um professor por natureza. Mas pouca gente imagina que o relacionamento humano com ele é tão grandioso quanto como economista. Cuidava da gente de um jeito indescritível. Sabia de tudo que acontecia na minha família, acompanhou minha vida inteira.
Mas como profissional nunca deixou de questionar por que não pensar ou fazer diferente. O que sintetiza o ensinamento de vida que ele nos passou é essa frase: ‘A gente tem que ser sério, muito sério no que faz, mas jamais sisudo’. E ele dizia também: ‘Eu nunca trabalhei um dia da minha vida só me diverti'”.
Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda
“Delfim Netto foi, a meu ver, o mais influente economista do Brasil. Por pelo menos por cinco décadas, participou do debate sobre a política econômica, tanto na academia quanto no setor público. Foi o mais longevo líder da equipe econômica do governo federal. Por 12 anos, no total, exerceu os cargos de ministro da Fazenda e do Planejamento. Seu permanente bom-humor foi a característica que associou ao profundo domínio das questões econômicas e dos desafios do Brasil.”
Marcos Lisboa, economista
O economista Marcos Lisboa concedeu entrevista à GloboNews. Veja abaixo.
‘Delfim certamente foi uma figura complexa’, diz Marcos Lisboa
Igor Rocha, economista-chefe da FIESP
“John Maynard Keynes escreveu que um bom economista deve combinar os talentos do “matemático, historiador, estadista e filósofo. Delfim foi quem compreendeu isso em absoluto, melhorando ainda com um excelente senso de humor. Sentiremos falta.”
Samuel Kinoshita, secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo
“Delfim Netto foi um economista, professor, secretário e ministro da Fazenda verdadeiramente definidor na nossa história econômica. Sua inteligência, sagacidade, curiosidade intelectual e amor pelo trabalho eram simplesmente ímpares. Pessoalmente, sofro a perda de um mentor e de um amigo genuíno a quem muito devo.”
André Perfeito, economista
“Delfim Netto foi um economista que refletiu seus pais e seu ofício. Contraditório e plástico circulava entre as mais diversas escolas econômicas e grupos políticos fazendo dele uma rara ponte entre visões diferentes de país. Fará falta para o Brasil.”
André Roncaglia, economista
“Delfim foi muito importante na formação da profissão de economista no Brasil. Sua tese sobre o café foi um marco nos estudos de economia brasileira. Escritor hábil e erudito e com refinado senso de humor, Delfim era um desenvolvimentista à moda antiga e sempre defendeu o equilíbrio dinâmico entre o mercado e as urnas, sem extremismos. Deixa uma vasta obra, como pensador e homem público, a ser debatida e estudada.”
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados
“Delfim era um caso raro de economista, dos completos que são difíceis de se ver ainda. Tinha um conhecimento enciclopédico e algo importante também que era uma bela retorica, uma enorme capacidade de convencimento. Deixa um legado importante de construção da FEA dos anos 50 e 60 com obras relevantes como O Problema do Café no Brasil.”
Monica de Bolle, economista
“Quando o conheci devia ter uns 7 anos. Na época, meu pai estava com Simonsen na Fazenda. Ao longo dos anos o encontrei várias vezes — Delfim era amigo do Dionisio e assinante da nossa Carta Econômica Galanto. Dele recebi muitos comentários e alguns elogios. Guardo-os com carinho pois, ainda que tivéssemos visões divergentes, nutria muita admiração por sua inteligência nada convencional.
Delfim fez coisas péssimas para o País, mas também deu grandes contribuições. Sua morte encerra a geração dos grandes e polêmicos gestores públicos do Brasil. Não há substitutos para qualquer deles: Simonsen, Delfim, Maria da Conceição, Roberto Campos, Eugênio Gudin, Bulhões, Dionisio.”
Tony Volpon, economista e ex-diretor do BC
Segundo o economista Tony Volpon, Delfim foi como Affonso Celso Pastore, “um dos grandes que passavam com facilidade entre academia e governo” e que seu legado, “como de toda aquela geração, foi a incapacidade de dar continuidade ao processo de crescimento acelerado do ‘milagre'”.
“Batemos na crise da dívida, atolamos no ‘middle income trap’, demorando décadas para vencer a inflação inercial — que foi outro legado de sua geração — com o Plano Real”, diz
“O pecado original dele (e de sua geração) foi uma visão limitada do processo de desenvolvimento, faltando forte orientação externa — exportação e importação — e investimentos em educação/capital humano. Isso os hoje ricos asiáticos entenderam.”
Delfim Netto foi figura central na vida política e econômica do Brasil nas últimas décadas
Cristiano Oliveira, economista e diretor de pesquisa econômica do Banco Pine
“Tive o privilégio de interagir com Delfim Netto em diversos momentos de minha carreira profissional. A cada oportunidade de escutá-lo eu aprendia algo, não apenas sobre economia, mas também sobre ciência política, filosofia e ‘pensar’ como estrategista — dado o seu vasto conhecimento. Delfim Netto já faz falta no debate econômico e político.”
Felipe Salto, economista-chefe da Warren
“Delfim Netto era um professor, mestre no sentido mais belo da palavra. Intelectual público marcante, ajudou a estruturar o pensamento econômico brasileiro e o próprio ensino da economia. Pessoalmente, aprendi muito com ele e testemunhei sua capacidade indescritível de traçar o futuro, quando as coisas eram incertas, e sempre ter um conselho bom na manga para os mais jovens. Fará muita falta.”
Fabio Kanczuk, economista do ASA e ex-diretor do BC
“Tenho saudades das conversas, do sarcasmo sobre o uso de Matemática na Economia, deixando óbvio que ele mesmo entendia e usava.”
Roberto Luis Troster, economista
“Grande Delfim Netto! Mudou o que é ser economista no Brasil. Na academia, na FEA USP, onde se formou e foi professor, ele incentivou o aprendizado de economia em grupos de leituras e de estudo fora do currículo. É uma tradição que se mantêm até os dias de hoje. Ele tinha a maior biblioteca de economia particular e facilitava o acesso a quem tivesse interesse em pesquisar. Fora da academia, soube combinar princípios econômicos com pragmatismo. Formou dezenas de economistas, que formaram centenas de outros. Deixou um legado enorme para a profissão. Foi um gigante.”
Paulo Feldmann, economista e professor da FEA-USP
“Delfim Neto sempre foi polêmico, mas nem seus inimigos contestaram seu profundo conhecimento teórico de Economia. Sua voracidade pelos livros e teóricos impressionava. Também não se pode acusá-lo de neoliberal, pois tinha divergências profundas com economistas deste grupo.
Uma das mais famosas foi sua briga com Roberto Campos, pois Delfim era contra a independência do Banco Central. Delfim dizia que seria impossível administrar o país sem o pleno controle da política monetária e da política cambial.
Como ministro da Fazenda, o BC sempre foi um instrumento das suas ações. Aliás, dizia-se socialista Fabiano e talvez por isso tenha sido um grande apoiador das políticas sociais de Lula e Dilma entre 2003 e 2014. Apesar de ter assinado o AI-5, nos últimos 35 anos de sua vida mudou de lado. Foi um bom deputado constituinte, dedicado e formulando vários dos seus aspectos econômicos. Defendia a escola pública e se vangloriava de seus pais nunca terem gastado um centavo na sua educação. Apaixonado pela FEA-USP, fez questão de doar sua biblioteca particular.”
Marcos Lisboa comenta por que Delfim Netto foi tão influente no debate econômico brasileiro
Chico Pessoa, economista
“A influência de Delfim Netto na política e economia brasileira foi tão ampla e complexa que não pode ser resumida em poucas palavras. Adotou certas medidas de política econômica que na minha avaliação não foram as mais adequadas, mas apontou saídas e fez críticas extremante valiosas ao longo de toda sua carreira.
Seu apoio à ditadura militar foi inequívoco, é verdade, mas a sua participação na vida democrática também foi relevante, incluindo aí o apoio genuíno a políticas ‘de esquerda’ de governos eleitos pela população.
Na seara profissional, nunca senti nenhum tipo de censura à possibilidade de pensar diferente, pelo contrário — algo que hoje parece inimaginável na maioria dos círculos que se dizem dispostos a debater os rumos do país.
Enfim, Delfim Netto faz parte de um grupo de pessoas, à direita e à esquerda, com uma formação intelectual, inteligência e olhar para os rumos do Brasil que cada vez é mais diminuto. Que sua história seja avaliada com a profundidade com que se dedicava a estudar tantos assuntos pelos quais se interessava.”
Silvia Matos, economista do FGV Ibre
“Infelizmente 2024 será marcado como um ano em que perdemos dois economistas dos mais influentes no Brasil.
Tanto Delfim como Pastore se destacaram pela capacidade de influenciar o debate econômico por décadas até o último momento.
Em particular, discordo de vários diagnósticos do Delfim, com destaque ao papel do estado no desenvolvimento econômico, na visão positiva sobre o intervencionismo estatal. Mesmo assim, ao longo dos anos, Delfim continuou ativo e contribuindo para o debate recente.”
Paulo Tafner, economista
“Delfim Neto era um gênio. Ele mostrou ao Brasil o que não deve ser feito.”
Gesner Oliveira, economista
“Nenhum outro economista protagonizou tantas fases distintas da política econômica brasileira; e o fez com astúcia, competência e sensibilidade para as sutilezas da economia política.”
Quem foi Delfim Netto
Nascido em São Paulo em 1° de maio de 1928, Delfim Netto foi um economista e professor universitário e dedicou boa parte de seus anos à vida pública.
Formou-se em 1951 como bacharel em Economia pela Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo (USP) e, já no ano seguinte, começou a lecionar como professor assistente na mesma instituição.
Ele continuou estudando e avançando na carreira acadêmica, primeiro com a tese “O Problema do Café no Brasil”, que o fez conquistar o título de Professor Livre-Docente, em 1959, e depois com a tese “Alguns Problemas do Planejamento para o Desenvolvimento Econômico”, em 1963, quando se tornou Professor Catedrático de Teoria do Desenvolvimento Econômico.
Dessa forma, segundo a USP, Delfim Netto foi o primeiro ex-aluno da faculdade e o primeiro economista formado após a regulamentação da profissão no Brasil a ocupar uma posição Catedrática na instituição.
Mas a vida acadêmica foi apenas um pedaço da atuação do economista. Em 1966, apenas 15 anos depois de se formar, ele começou na vida pública assumiu o cargo de Secretário da Fazenda do Estado de São Paulo.
Já no ano seguinte, em 1967, Delfim foi nomeado ministro da Fazenda, cargo em que permaneceu até 1974, como o mais longevo na função.
O economista esteve à frente da Economia brasileira no período da ditadura militar conhecido como “Milagre Econômico”.
De 1975 a 1978 foi embaixador do Brasil na França. Após sua volta ao país, em 1978, foi ministro, também, da Agricultura e, depois, do Planejamento, até 1985.
Dois anos depois de deixar o cargo no Ministério do Planejamento, em 1987, foi eleito deputado federal pela primeira vez. Ele também foi eleito e assumiu outros mandatos em 1991, 1995, 1999 e 2003 – permanecendo no cargo até 2007.
Delfim também foi conselheiro econômico de diversos presidentes, inclusive de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ocupa a Presidência da República em seu terceiro mandato.
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