Dólar sobe e fecha a R$ 5,62, com juros nos EUA e Galípolo no radar; Azul desaba quase 24% na bolsa
O Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores, fechou em queda de 0,95% nesta quinta-feira, aos 136.041 pontos, após novo recorde de pontuação na véspera.
Pixabay
O dólar fechou em alta nesta quinta-feira (29), refletindo novos dados da economia norte-americana, que jogam mais dúvidas no mercado sobre qual será a magnitude dos cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, recuou.
O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre dos EUA cresceu 3%, acima das projeções de mercado, de 2,8%, e da primeira prévia do resultado, que apontava alta de 1,4%.
O Departamento do Trabalho, por sua vez, divulgou os números de pedidos iniciais por seguro-desemprego na última semana, que somaram 231 mil, menos que os 232 mil esperados pelo mercado e os 233 mil da semana anterior.
Os números melhores que as estimativas reacendem as dúvidas sobre o que deve acontecer na próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), em setembro. Com uma economia ainda forte, a instituição pode ser mais moderada na hora de reduzir as taxas de juros.
Ainda no cenário externo, resultados corporativos divulgados pela Nvidia, fabricante de chips e semicondutores, ontem pesam sobre os negócios neste pregão. Apesar de bons números de receita e lucro, a empresa mostra uma desaceleração do crescimento.
No Brasil, o grande destaque do dia fica com as ações da Azul, que chegaram a desabar mais de 25% ao longo do dia. A empresa anunciou nesta quinta um novo plano estratégico em meio a dificuldades operacionais.
No cenário doméstico, ainda, os investidores seguem repercutindo a indicação de Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do Banco Central do Brasil (BC), ao comando da instituição. O mercado quer ver qual será a condução do BC por um indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende corte mais expressivos na Selic, taxa básica de juros.
O nome de Galípolo ainda precisa ser aprovado pelo Senado Federal. A previsão é que a sabatina do indicado ocorra na semana de 9 de setembro, conforme mostrou o blog da Julia Duailibi.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
ENTENDA: Copom endurece discurso, e deixa a dúvida: a Selic pode subir?
Dólar
O dólar subiu 1,20%, cotado a R$ 5,6231. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,6620. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
alta de 2,62% na semana;
recuo de 0,55% no mês;
avanço de 15,88% no ano.
No dia anterior, a moeda americana teve alta de 0,99%, cotada em R$ 5,5564.
Ibovespa
O Ibovespa recuou 0,95%, aos 136.041 pontos. As ações da Azul despencaram 23,17%.
Com o resultado, o Ibovespa acumulou:
alta de 0,32% na semana;
alta de 6,57% no mês;
ganhos de 1,38% no ano.
Na véspera, o índice fechou em alta de 0,42%, aos 137.344 pontos, renovando seu maior patamar histórico.
DINHEIRO OU CARTÃO? Qual a melhor forma de levar dólares em viagens?
DÓLAR: Qual o melhor momento para comprar a moeda?
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
Os números mais positivos da economia dos Estados Unidos divulgados hoje aumentam as dúvidas sobre qual será a magnitude dos cortes nas taxas de juros do Fed na próxima reunião.
Hoje, elas estão entre 5,25% e 5,50% ao ano e o mercado já dá como certo que a instituição vai promover um corte em setembro, principalmente depois do discurso do presidente, Jerome Powell, afirmar que “chegou a hora de mudar a política (monetária)” na última sexta-feira.
O chefe do Fed, porém, não deu certeza sobre qual será a magnitude desse corte nos juros, dizendo apenas que a instituição tem um “amplo espaço” para fazer isso.
O tamanho desse corte e qual será a posição do Fed nas próximas reuniões até o fim do ano estão no centro das atenções do mercado, que esperam uma pista mais certeira sobre o que vai acontecer para calibrar suas carteiras de investimentos.
Neste sentido, uma declaração de um dirigente da instituição nesta quarta-feira também pesou sobre os mercados.
Raphael Bostic, diretor do Fed de Atlanta (o BC dos Estados Unidos tem unidades regionais), disse que a inflação em queda (em julho, a inflação anual foi de 3,2%) e a taxa de desemprego acima do esperado (4,3% em julho) podem ser um sinal de que é “hora de agir” e cortar os juros. No entanto, ele disse que quer ter mais clareza antes de tomar essa decisão.
De acordo com Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, os dados de PIB e desemprego de hoje não são “suficientes para diminuir as incertezas sobre o tamanho do corte na taxa de juros que iniciarão o ciclo de afrouxamento monetário em setembro”.
“No momento, o mercado está atribuindo 67,5% de probabilidade para um corte de 0,25 ponto percentual e 32,5% para um corte de 0,50”, pontua o economista.
Quanto mais as taxas caem, maior é o impulso para a atividade econômico, pois juros menores barateiam a tomada de crédito para empresas e população — o que estimula o consumo, os investimentos em ativos mais arriscados e a economia como um todo.
Mas se a economia continuar mostrando resiliência, com uma atividade econômica crescente e um mercado de trabalho mais equilibrado, os cortes nas taxas podem ser mais moderados, de forma a não permitir que a pressão inflacionária volte a impactar os Estados Unidos com força.
Por isso, o mercado aguarda novos dados de inflação que serão divulgados nesta sexta-feira (30), com o indicador PCE. Esse é o dado de inflação favorito do Fed porque mede a variação dos preços apenas nas cestas de produtos e serviços mais consumidos pela população.
Cautela com Nvidia
No mundo corporativo, os investidores repercute os resultados divulgados pela Nvidia ontem.
A gigante da tecnologia apresentou números bastante expressivos: no segundo trimestre deste ano, a empresa teve ganhos de US$ 16,6 bilhões — uma alta de 168% em comparação com os mesmos meses do ano passado.
O resultado, no entanto, é muito menos expressivo do que o calculado no primeiro trimestre deste ano, quando o lucro da companhia subiu 628% em relação ao mesmo período de 2023.
Além disso, a companhia também revelou que suas estimativas são de uma receita de US$ 32,5 bilhões no próximo trimestre. A informação não impressionou investidores, que apostavam em números mais altos — de olho no futuro da inteligência artificial (IA) generativa.
Esses números de crescimento menores do que o visto nos meses anteriores gera uma cautela no mercado sobre a possibilidade de tanto a Nvidia quanto outras empresas da área de inteligência artificial, que vivem um momento de disparada nas bolsas de valores americanas, estarem criando uma bolha.
Uma “bolha” no jargão econômico acontece quando um mercado ou setor produtivo cresce a um ponto que se descola da realidade e dos fundamentos econômicos daquele cenário. Nesse caso, haveria uma bolha se analistas estiverem projetando lucros e avanços ao setor de inteligência artificial a patamares maiores do que eles podem alcançar.
Só em 2024, até aqui, as ações da Nvidia já dispararam cerca de 150%, com a expectativa por números sempre astronômicos de receitas e lucros.
O problema de uma bolha é que, se o mercado passar a entender que o setor não tem o mesmo potencial que o que era esperado, pode haver uma saída de dinheiro em massa capaz de impactar toda a economia.
A empolgação com a inteligência artificial relembra a bolha da internet nos anos 2000, conhecida também como bolha “PontoCom”, por exemplo. O desenvolvimento dos primeiros serviços virtuais levou os investidores a despejarem rios de dinheiro sobre empresas do segmento, que em pouco tempo não se provaram tão úteis ou rentáveis.
O desespero generalizado para vender as ações fez o valor de mercado dessas empresas derreter. Mais de 500 empresas fecharam as portas, com uma estimativa de que o mercado tenha perdido cerca de US$ 5 trilhões.
ENTENDA MAIS:
Nvidia: como a inteligência artificial criou o novo ‘fenômeno’ da bolsa americana
Mercado interno reflete indicação de Galípolo e endividamento da Azul
O maior fato do cenário corporativo é a queda brusca das ações da Azul, que caiam quase 24% nesta quinta-feira, pior desempenho com folga do Ibovespa.
Uma reportagem da Bloomberg News diz que a Azul está estudando uma forma de resolver seu endividamento, com alternativas que vão de uma nova oferta de ações até a apresentação de um pedido de recuperação judicial.
A companhia também está trabalhando ativamente para realizar uma combinação de negócios com a Gol para convencer os credores de que uma nova entidade combinada teria níveis de dívida mais baixos e melhores perspectivas de crescimento.
Além disso, a indicação do economista Gabriel Galípolo para presidir o Banco Central (BC) na véspera também segue no radar do mercado. Galípolo atualmente faz parte da diretoria do BC.
A indicação foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (28), confirmando as expectativas do mercado financeiro.
“O presidente da República me incumbiu de fazer um comunicado aqui de que hoje ele está encaminhando ao Senado Federal o indicado dele para a Presidência do Banco Central, que vem a ser o Gabriel Galípolo, que hoje ocupa a Diretoria de Política Monetária do Banco”, declarou Haddad.
Haddad também explicou que, a partir do anúncio, o governo vai “começar a trabalhar para definir os três nomes que irão compor a diretoria até o final do ano”.
Escolhido pelo presidente da República, Galípolo ainda precisa receber o aval do Senado Federal antes de assumir o cargo.
A indicação de Galípolo foi bem recebida por agentes do mercado financeiro. Desde sua nomeação para a diretoria, em maio do ano passado, especulava-se que ele poderia ser o futuro indicado de Lula à presidência da instituição.
O mercado, inclusive, desconfiou que a proximidade entre eles pudesse gerar interferência política nas decisões de taxa de juros do país. Mas a atuação e declarações de Galípolo em mais de um ano de BC deram algum conforto de que ele comandaria o BC com um olhar técnico.
Analistas ouvidos pelo g1 reforçam que ele ainda precisará confirmar na prática que o BC continuará independente. Em especial, porque Lula passou os dois primeiros anos de mandato criticando a presidência da instituição.
source