Em busca do Sucesso

Aqui você começa o seu ciclo para um sucesso absoluto.


Representante do Brasil na ‘Copa do Mundo’ de bartenders falou ao g1 sobre sua preparação para a etapa mundial, planos futuros e expectativa para coquetelaria brasileira. A bartender Vitória Kurihara quando foi anunciada como campeã da etapa nacional do World Class
Bruno Basila/Pridia
A cidade de São Paulo recebe nesta semana a etapa mundial do World Class, competição considerada a “Copa do Mundo” de bartenders. Dentre os participantes, de 54 países, uma mulher será a representante brasileira.
Vitória Kurihara, de 24 anos, é bartender do DUQ Gastronomia, em Curitiba. Em apenas cinco anos atrás do bar, chegou ao mundial em sua primeira tentativa.
Para garantir sua vaga, ela venceu a etapa nacional do concurso, promovido pela Diageo em junho. De lá para cá, passou a se acostumar com clientes que foram ao bar em busca não só de um bom coquetel, mas também de vê-la trabalhar.
Ser reconhecida por tanta gente, principalmente mulheres… A gente sabe que a área de coquetelaria, de gastronomia, é uma área muito machista. Então, ter tantas mulheres que eu acompanhava me parando para elogiar foi incrível.
A coquetelaria passa por um momento especial no Brasil. De anos para cá, o consumidor brasileiro tem buscado novas opções de lazer, aquecido o mercado de bares especializados em coquetéis e enaltecido os bons bartenders.
A vinda do World Class para o país, em sua 14ª edição, é uma espécie de coroação da cena brasileira de coquetelaria, ainda que o consumo de destilados seja apenas 5% do que é bebido por aqui. Na interpretação otimista dos profissionais, contudo, o número só mostra que há espaço para crescer.
Para Vitória, a realização do evento no país mostra que a cena vem crescendo e que o brasileiro passou da fase de beber por beber. “Por um tempo foi legal você ter uma garrafa de vodka e vários energéticos na balada. Hoje, você estar com um coquetel bem-feito e bonito é quase um lifestyle”, diz.
A coquetelaria passou a ser um estilo de vida, não em quesito de beber muito, mas sobre o que você está bebendo. Passou a ser arte. Quem consome a coquetelaria, consome arte.
O World Class começa oficialmente neste sábado, mas os desafios que definirão o campeão começam na próxima terça-feira (26).
Veja abaixo a entrevista concedida por Vitória ao g1, antes de sua “entrada em campo” para a disputa do mundial.
A bartender Vitória Kurihara quando foi anunciada como campeã da etapa nacional do World Class
Bruno Basila/Pridia
g1 – Vamos do começo: como você se tornou bartender?
Meu primeiro emprego foi em confeitaria. Passei por algumas cozinhas, fazia eventos, bolos de casamento, mas eu nunca senti um propósito no que estava fazendo. Ir trabalhar e não sentir que está fazendo o certo para você, é muito desgastante. E sempre que eu saía meio triste do trabalho, ia para o balcão de bar.
Acabei fazendo muitos amigos bartenders e comecei a me interessar por isso. Eu tinha uma agendinha com receitas de coquetéis clássicos que eu queria aprender. Queria conhecer os sabores, saber de onde vem. Fiz uma imersão ainda como cliente.
Pouco depois, comecei a fazer uns ‘freelas’ [freelancer] de atendimento, como garçonete, até o dia que faltou um bartender e eu fui para trás do balcão. Era um open bar de gin tônica e Moscow Mule.
Eu não sabia nada, não fazia ideia de como segurar jigger [dosador], de como batia uma coqueteleira, a quantidade de gelo que eu deveria usar. Mas o head bartender disse que se eu já tinha trabalhado em cozinha, ia dar conta. E foi o que aconteceu; saí de lá preenchida.
O que me fez escolher o bar foi como eu me senti naquele dia, atendendo pessoas, trocando experiências e de alguma forma trazendo conforto em forma de coquetel e de atendimento.
g1 – Foi um começo bem de ‘guerrilha’, de ir se enfiando, perguntando. Mas como foi seu desenvolvimento até chegar a ser campeã nacional?
Tenho para mim que conhecimento você compartilha, não guarda para você. E eu tive a sorte de ter pessoas da área de bar que fizeram o mesmo comigo: que ensinaram, indicaram livros e trocaram experiências.
Fui testar, fiz os coquetéis, dei para eles provarem. Então, eu acho que eu fui suprida de certa forma por uma comunidade de bar muito boa.
As pessoas olham muito para São Paulo e Rio, ou até para fora do país, e acabam saindo daqui do Paraná. Então, quando tem alguém que quer aprender, a gente realmente abraça e faz essa pessoa se sentir da comunidade. Não sei se eu não estivesse aqui, se seria de outra forma.
E, também, eu venho da confeitaria. Você ainda tem pré-preparos, mise en place e uma rotina que lembra com o que eu trabalhava antes. Então, acaba não sendo um salto tão distante.
A bartender Vitória Kurihara durante um dos desafios da etapa nacional do World Class
Bruno Basila/Pridia
g1 – Dentro dos seus cinco anos de carreira, mais de um terço foi impactado pela pandemia. Como foi esse momento?
A pandemia, para todos nós, foi horrível. Tive que voltar por um período à cozinha e passaram todos os sentimentos pela cabeça: ‘Será que eu estou fazendo certo? O que vai acontecer?’
Eu usei esse momento para formar um plano. Assim que a pandemia acabasse, eu focaria em conseguir uma posição em um bar de coquetelaria. Eu estava em um bar de rua, mais simples e menos especializado. Já estava na hora de ter uma imersão completa.
g1 – Durante a pandemia, muita gente se envolveu mais em entender a coquetelaria. Não tinha bar aberto, então bastante gente aprendeu um pouco para fazer coquetéis em casa. Foi uma mudança positiva? O cliente ficou diferente desde então?
Eu sempre tento ver os dois lados. Ao mesmo tempo que a gente tem hoje clientes estudados, que entendem o que a gente está fazendo, também tem aqueles que acham que nosso trabalho é simples.
Ter um cliente que sabe que está bebendo é extremamente importante, porque ele não vai aceitar qualquer coisa. Então, a régua começa a subir para todos. O bartender também não vai poder entregar qualquer coisa, porque o cliente não vai aceitar. Isso foi bom.
Mas ainda existe aquele cliente que tem uma certa ‘birra’. [Uma postura de] ‘Eu sei fazer isso na minha casa, por que você me cobra tal coisa? Por que você faz dessa forma?’.
Mas a gente aprende a lidar e eu acho isso bom. Faz a gente sair da nossa zona de conforto e também colocar a régua lá em cima.
g1 – Você sempre fala na hospitalidade do bartender. Qual é a sua técnica para fazer esse meio de campo para cada tipo de cliente?
A coquetelaria é sobre pessoas e para pessoas. A parte mais difícil do nosso trabalho é o jogo de cintura. Muitas vezes chegam pessoas no balcão que esperam que eu resolva todos os problemas da vida dela com um coquetel. Eu adoraria que isso fosse possível.
Mas eu não vou bater de frente com um cliente que desafia. Tenho sempre que entender qual é a troca que eu posso ter com ele. Clientes que sabem mais demandam mais atenção porque ele vai querer trocar uma ideia sobre o que ele conhece e sobre o que ele poderia fazer.
Em qualquer profissão existe um jogo de ego, mas eu não gosto de ir para esse lado. Eu gosto de pessoas. Muitas vezes é só se colocar no lugar de alguém que está ali e tratar como eu gostaria de ser tratada. No fim, eu fazia a mesma coisa lá no começo.
A bartender Vitória Kurihara durante um dos desafios da etapa nacional do World Class
Bruno Basila/Pridia
g1 – E o que você acha mais interessante desse fenômeno, de ter cliente que são mais interessados, com a valorização dos bares de coquetelaria?
O mais legal é que, a partir do momento que as pessoas começam a entender a coquetelaria, entendem também que tudo aquilo não é só pelo álcool. É uma experiência.
As pessoas não escolhem sentar em um balcão porque elas querem beber um coquetel. Elas querem essa troca. E tem toda parte do show. Quando eu coloco minha roupa para ir trabalhar, eu me sinto pronta. É a hora do show.
Por um tempo foi legal você ter uma garrafa de vodka e vários energéticos na balada. Hoje, você ter um coquetel bem-feito e bonito é quase um lifestyle.
A coquetelaria passou a ser um estilo de vida. Não em quesito de beber muito, mas sobre o que você está bebendo. Passou a ser arte. Quem consome a coquetelaria consome arte.
g1 – Como tem sido o momento de campeã nacional? Como é ter clientes que sabem seu nome, indo para o bar para tomar um coquetel seu?
Bom, tem o vídeo da final em que anunciam meu nome. Eu fiquei em choque!
Primeiro porque várias pessoas que me ensinaram passaram pela World Class antes e não chegaram onde eu estou hoje. É um susto! Professores meus e colegas de vida que batalharam muito. E todos estavam lá para torcer, o que foi bem legal.
Mas eu vejo duas partes disso. Uma é a Vitória que talvez não tivesse muita confiança em si mesma, que era super low profile [discreta], para, no dia seguinte olhar para o meu troféu e falar: ‘Quem é você? A gente precisa se conhecer’.
Ser reconhecida por tanta gente, principalmente mulheres… A gente sabe que a área de coquetelaria, de gastronomia, é uma área muito machista. Então, ter tantas mulheres que eu acompanhava me parando para elogiar foi incrível.
Antes do World Class, eu tinha ido para São Paulo só duas vezes. Eu só acompanhava esse cenário por rede social. Agora, eu estou inserida nisso. Foi um pouco assustador, mas vou surfar nessa onda.
Está sendo bem legal, abre muita porta. Eu trato tudo isso com muita honra, pelo que eu vou fazer pelas pessoas. É um título que vai me abrir portas, mas o que eu vou fazer com elas? É algo que eu sempre penso antes de dar qualquer passo.
A bartender Vitória Kurihara durante um dos desafios da etapa nacional do World Class
Bruno Basila/Pridia
g1 – E o que você quer fazer com as portas que se abriram? Já deu tempo de pensar nisso e formar planos?
Tenho muitos planos, mas ainda estou formatando. Não pretendo ter um bar agora, que é a pergunta que todo mundo me faz.
O que é certo: não vou sair de Curitiba. Não quero sair do Paraná tão cedo.
Não porque eu não queira. Tem várias oportunidades e ‘famílias’ que eu construí, pessoas que eu conheci, mas aqui é o lugar que me abraçou e onde me ensinou tudo que eu sei. Então, colocar em evidência a coquetelaria do Paraná é algo que eu devo para mim mesma.
Tem muita gente lutando por isso há muitos anos, e usar dessa visibilidade é um sonho de muita gente.
g1 – Você falou como o título te deixou mais confiante em si mesma. Como está a Vitória que chega para a etapa mundial?
O principal é trabalhar duro para chegar nos objetivos. Eu vou estar nessa etapa mundial com mais 53 pessoas, de várias culturas e países diferentes, muito boas também ou melhores que eu.
Eu vou fazer o meu melhor e quero que as pessoas lembrem disso, independentemente do resultado que eu tiver.
Não que eu não queira o prêmio. Todo mundo quer, né? Seria incrível. Mas vou chegar sendo eu mesma.
Sim, a etapa nacional me fez ter mais confiança, mas, ao mesmo tempo, estou passando por um processo de autoconhecimento. Então, chega [na etapa do mundial] uma Vitória que não vai para ganhar só por ganhar.
De novo: tudo isso não é só sobre coquetéis, é sobre pessoas. Todos os jurados já viram milhões de apresentações. O seu diferencial é tratamento entre pessoas, a experiência. É com essa cabeça que estou indo para o mundial.
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