Fed mantém juros dos Estados Unidos inalterados, mas sinaliza nova alta à frente
Referencial de juros continua na faixa de 5,25% a 5,50%, no maior patamar desde 2001. Sede do Federal Reserv (Fed), Banco Central dos EUA.
REUTERS/Joshua Roberts
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), manteve os juros do país inalterados nesta quarta-feira (20), em uma faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. Esse continua sendo o maior nível das taxas desde 2001.
A decisão já era esperada pelo mercado e veio após o comitê ter elevado a taxa básica do país em 0,25 ponto percentual em sua última reunião, em julho, em mais uma tentativa de controlar a pressão inflacionária na maior economia do mundo.
Apesar da manutenção, os dirigentes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) indicaram que uma nova alta das taxas pode acontecer até o final do ano, sinalizando que a política monetária mais restritiva também deve se estender para 2024.
Em comunicado, o Fed informou que continuará a avaliar informações adicionais sobre a economia e suas implicações para a política monetária norte-americana, reforçando que o comitê está “preparado” para ajustar a orientação dos juros caso “surjam riscos que possam impedir” a convergência da inflação dos EUA para a meta de 2%.
Em entrevista concedida à imprensa após a divulgação do comunicado, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a autarquia pretende alcançar um patamar em que haja confiança de que a inflação irá convergir para a meta de 2% do BC norte-americano.
“À medida que nos aproximamos da taxa […] que consideramos apropriada para reduzir a inflação para 2% ao longo do tempo, os riscos tornam-se bilaterais […] e o bom senso natural a fazer é se mover um pouco mais devagar [nas decisões de política monetária] e é o que estamos fazendo”, disse, acrescentando que as autoridades do Fed continuarão a tomar decisões “reunião a reunião”.
Os juros ainda em níveis elevados nos Estados Unidos aumentam a rentabilidade dos Treasuries (títulos públicos norte-americanos) e devem continuar a refletir nos mercados de ações e no dólar, com a migração cada vez maior de investidores para o país, em busca de uma melhor remuneração.
No cenário macroeconômico, os efeitos dos juros altos nos Estados Unidos também se refletem no longo prazo, indicando uma tendência de desaceleração econômica global, já que empréstimos e investimentos também ficam mais caros.
Por aqui, investidores seguem na expectativa pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC), que deve ser divulgada ainda nesta quarta-feira. A maior parte do mercado aposta em uma nova redução da taxa básica de juros (Selic), em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano.
A decisão do Fed
Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o Fomc ainda destacou que indicadores recentes sugerem que a atividade econômica dos EUA “cresce a um ritmo sólido” e que a inflação norte-americana segue elevada.
A nota reforça, ainda, que o aumento no número de vagas “abrandaram” nos últimos meses, mas que permanecem fortes, enquanto a taxa de desemprego continua baixa.
“O comitê procura atingir o nível máximo de emprego e levar a inflação à taxa de 2% a longo prazo”, informou o Fomc no comunicado, destacando que ao determinar “a extensão do reforço adicional” que pode ser apropriado para atingir esses objetivos, levará em consideração:
o aperto cumulativo da política monetária;
a defasagem dos efeitos do aumento de juros na atividade econômica e na inflação;
e os fatores econômicos e financeiros.
“Além disso, o Comité continuará a reduzir as suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos garantidos por hipotecas de agências, conforme descrito nos seus planos anunciados anteriormente”, acrescentou o comitê.
O Fomc ainda disse que o sistema bancário dos EUA é “sólido e resiliente” e afirmou que condições mais restritivas de crédito para as empresas e as famílias “poderão pesar sobre a atividade econômica, as contratações e a inflação”.
“A extensão desses efeitos permanece incerta. O Comitê continua muito atento aos riscos de inflação”, concluiu a nota.
Uma nova alta à vista
Além de reforçarem as preocupações com uma eventual alta inflacionária, os dirigentes também sinalizaram que um novo aumento de juros deve acontecer até o final deste ano.
De acordo com o Sumário de Projeções Econômicas, também divulgado nesta quarta-feira, os dirigentes do Fed acreditam que os juros do país devem chegar ao intervalo de 5,50% e 5,75% ainda neste ano, segundo a mediana das previsões.
Além disso, as estimativas também indicam que as taxas norte-americanas devem cair apenas 0,50 ponto percentual em 2024, sinalizando uma política monetária ainda apertada no ano que vem. A previsão é que os juros do país caiam para 5,1% até o final de 2024 e 3,9% até o fim de 2025.
Os dirigentes também trouxeram projeções para o crescimento econômico dos Estados Unidos deste ano (2,1%), para a taxa de desemprego (3,8%) e para o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês, a medida de inflação preferida do Fed), que deve ficar em 3,3% em 2023.
Segundo Powell, apesar de as projeções apresentadas nesta quarta-feira mostrarem uma polícia monetária mais restritiva, elas “não são um plano de ação”, mas apenas refletem a visão dos dirigentes de que a economia norte-americana terá um desempenho melhor do que o esperado inicialmente.
“Se a economia ficar mais forte do que o esperado, significa apenas que teremos de fazer mais em termos de política monetária para voltar [a inflação] aos 2%”, disse.
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