Fed mantém juros dos EUA na faixa de 5,25% a 5,50%, mas cita falta de progresso rumo à meta de inflação
Referencial permaneceu inalterado pela sexta reunião consecutiva. Esse continua sendo o maior nível das taxas desde 2001. Fed mantém juros entre 5,25% e 5,5% ao ano; Bruno Carazza comenta
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) manteve os juros do país inalterados nesta quarta-feira (1º), em uma faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. A decisão foi unânime. Esse continua sendo o maior nível das taxas desde 2001.
A medida já era esperada pelo mercado e veio após o comitê ter mantido o mesmo referencial na última reunião, em março. Desta vez, contudo, o Fed sinalizou uma preocupação com a falta de avanço do processo de desinflação dos EUA.
“Nos últimos meses, não houve novos progressos em direção ao objetivo de inflação de 2%”, informou o colegiado, reforçando que os indicadores recentes da economia norte-americana continuaram se expandindo “em um ritmo sólido”.
O Fed indica, portanto, que o patamar de juros dos EUA não foi suficiente para construir uma confiança na queda inflacionária nos primeiros meses de 2024. Isso mantém no mercado um cenário de dúvida em relação a quando podem ocorrer cortes no referencial de juros do país.
Quando os juros americanos estão elevados, a rentabilidade das Treasuries (títulos públicos norte-americanos), os mais seguros do mundo, é maior. Assim, quem busca segurança e boa remuneração prioriza o investimento no país, e se afasta de emergentes, como o Brasil.
Com o fluxo de dólares voltado para os EUA, investidores deixam a bolsa brasileiras e a taxa de câmbio piora por aqui — que, em último caso, pode complicar também a nossa inflação.
Ao publicar a decisão, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) voltou a afirmar que não considera apropriado reduzir o intervalo de juros até que tenha “maior confiança de que a inflação está evoluindo de forma sustentável para 2%”, a meta do Fed.
Também voltou a dizer que está “preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o alcance de seus objetivos”.
Sobre o mercado de trabalho, o comitê reafirmou que “os ganhos no emprego permaneceram fortes e a taxa de desemprego permaneceu baixa”. Disse ainda que “os riscos para alcançar os seus objetivos de emprego e inflação evoluíram para um melhor equilíbrio ao longo do ano passado”.
O colegiado ponderou, no entanto, que as perspectivas econômicas são incertas, e que segue “muito atento” aos riscos inflacionários.
‘Inflação ainda está muito alta’, diz Powell
Presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em entrevista coletiva após decisão sobre juros, em Washington, nos EUA. (1/5/24)
Reuters/Kevin Lamarque
Após o anúncio da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que provavelmente levará mais tempo do que o esperado anteriormente para que as autoridades do Fed ganhem a confiança necessária para iniciarem os cortes nas taxas de juros.
“A inflação ainda está muito alta”, disse Powell. “Progressos adicionais para derrubá-la não estão garantidas e o caminho a seguir é incerto. É provável que ganhar maior confiança demore mais do que o esperado anteriormente.”
Por outro lado, o presidente do Fed disse ser “improvável” que haja um aumento na taxa básica de juros dos EUA na próxima decisão. Segundo ele, o foco do BC norte-americano tem sido manter sua atual postura restritiva.
“Acho improvável que o próximo movimento seja uma elevação da taxa”, disse Powell, após ser questionado sobre os riscos de que os juros precisem ser elevados para reduzir a inflação do país.
Na visão de investidores, o discurso do presidente do Fed foi menos duro do que o esperado, mesmo com uma série de dados negativos de inflação nos últimos meses.
Os comentários de Powell se revelaram “notavelmente menos agressivos do que o que muitos temiam, alinhando-se à declaração do Fomc em vez de atacar o mercado”, apontaram analistas da Evercore ISI, conforme noticiou a Reuters.
“A mensagem básica foi que os cortes foram adiados, e não descarrilhados”, continuou a consultoria.
Reflexos dos juros norte-americanos
Os juros em níveis elevados nos Estados Unidos aumentam a rentabilidade dos Treasuries (títulos públicos norte-americanos) e devem continuar a refletir nos mercados de ações e no dólar, com a migração cada vez maior de investidores para o país, em busca de uma melhor remuneração.
No cenário macroeconômico, os efeitos dos juros altos nos Estados Unidos também se refletem no longo prazo, indicando uma tendência de desaceleração econômica global, já que empréstimos e investimentos também ficam mais caros.
No Brasil, investidores seguem na expectativa pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC), que será divulgada na próxima quarta-feira (8).
A maior parte do mercado aposta em uma nova redução da taxa básica de juros (Selic), em 0,50 ponto percentual, para 10,25% ao ano.
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