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Informação consta na ata da última reunião do Copom, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia foi mantida estável em 10,50% ao ano. Além do dólar, BC se mostrou preocupado também com o impacto da alta de gastos públicos na inflação. Fachada do Banco Central, em Brasília.
Raphael Ribeiro/BCB
O Banco Central se mostrou mais preocupado com a alta do dólar, e seu impacto na inflação futura, e informou que “não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.
A informação consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia foi mantida inalterada em 10,50% ao ano. Foi o segundo encontro seguido de manutenção da Selic.
De acordo com o BC, os movimentos recentes de alguns dos condicionantes para a dinâmica da inflação, tais como as expectativas de inflação e a taxa de câmbio, com o dólar subindo fortemente nas últimas semanas, foram amplamente debatidos no encontro da última semana.
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“Observou-se que, se tais movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão devidamente incorporados pelo Comitê. Em função disso, o Comitê avaliou que o momento é de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação e de maior vigilância perante um cenário mais desafiador”, acrescentou o Banco Central.
De maneira geral, a taxa de câmbio pode ter influência nos preços domésticos em diferentes frentes, como por meio da importação de produtos e insumos ou mesmo pela equiparação dos preços praticados no Brasil com o mercado internacional. Juro mais alto, por sua vez, tende a inibir uma alta maior da moeda norte-americana.
O Copom também avaliou que há uma “percepção mais recente” dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, a regra para as contas públicas, junto com outros fatores, e avaliou que isso “vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos (como o dólar e juros futuros) e as expectativas (de inflação, que estão em alta)”.
Por conta disso, avaliou que as projeções de inflação para os próximos anos têm subido, e que o cenário atual é marcado por mais riscos, sendo “desafiador”. Acrescentou que o desenrolar desse cenário é importante para definir os próximos passos sobre a taxa de juros da economia.
“À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, acrescentou o BC.
Como as decisões são tomadas
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia. Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste ano, e também para o segundo semestre de 2025 (em doze meses).
A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;
A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida;
Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 4,12% e, a de 2025, 3,98%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos.
As previsões do mercado financeiro subiram em relação ao patamar vigente, por exemplo, há três meses atrás. No começo de março, a projeção dos analistas estava em 3,74% para a inflação de 2024 e em 3,50% para o IPCA do próximo ano.
Em março, o Banco Central estimou que as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência estavam em em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. Já na última semana, o BC estimou uma inflação de 4,2% para 2024 e de 3,6% para 2025.
Com isso, as projeções dos analistas, e também do BC, estão se distanciando das metas centrais de inflação, fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), e se aproximando do limite superior da banda das metas de inflação.
O BC informou já estar olhando para seis trimestres adiante, tendo por base o sistema de meta contínua de inflação de 3%, ou seja, para o período de doze meses até março de 2026. Nesse caso, a inflação estimada está em 3,4% (com juros recuando ano que vem) e de 3,2% (com Selic estável durante todo período).
“O Comitê avalia que a condução da política monetária [definição dos juros] é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas [de inflação em direção às metas] e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e, consequentemente, reduzam o custo da desinflação. O Comitê não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação”, avaliou o BC, na ata do Copom.
Veja os recados do Banco Central
Na ata do Copom, que detalhou o que foi discutido na reunião da semana passada, quando os juros foram mantidos estáveis em 10,50% ao ano, o BC fez as seguintes avaliações sobre o cenário para a inflação:
O BC avaliou que o cenário externo se mantém adverso. Segundo a instituição, os “fluxos de capital [entrada e saída de dólares nos países] refletem também um fenômeno global de aversão ao risco, que, a depender dos fundamentos de cada economia emergente, pressiona a taxa de câmbio com intensidade variável”.
No caso dos Estados Unidos, as incertezas quanto ao ritmo da atividade econômica persistem, uma vez que, por um lado, os dados correntes sugerem resiliência, e, por outro lado, “observa-se uma desaceleração nos dados de emprego e as condições financeiras se mantêm apertadas por um período já prolongado”. Concluiu, porém, que “vislumbra-se um cenário de redução gradual da inflação e da atividade e um início cauteloso” de corte de juros nos EUA.
Nos países emergentes, diz o BC, há cenário mais desafiador, mas há continuidade cautelosa do ciclo de queda de juros em alguns países e sua interrupção em outros. “As taxas de câmbio de países emergentes tiveram depreciação no período recente, refletindo um cenário mais desafiador para essas economias”, acrescentou.
O BC repetiu que não há relação mecânica entre os juros nos EUA e a alta do dólar no Brasil com a definição dos juros, mas que isso depende dos “mecanismos de transmissão”, ou seja, como esses fatores impactam a inflação doméstica. Entretanto, avisou que um “cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução” da política para a taxa de juros no Brasil.
Os dados de atividade econômica e do mercado de trabalho seguem com “maior dinamismo do que era esperado”, o que pode pressionar a inflação por meio dos preços dos serviços. “Com relação ao mercado de trabalho, ressaltou-se que o nível de ocupação, a taxa de desocupação e a renda vêm sistematicamente surpreendendo. O Comitê novamente avaliou que essas surpresas recorrentes apontam para elevado dinamismo do mercado de trabalho, que se mostra apertado”, avaliou.
O BC reforçou a visão de que o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal [relativa às contas públicas], o aumento de crédito direcionado [BNDES, rural e habitacional] e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia” — ou seja, aquela necessária para conter a inflação sem impacto na atividade. Isso pode gerar um custo maior para reduzir a inflação, em termos de atividade econômica.
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