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Produto pode ter até 1% materiais naturais da própria lavoura, como galhos, folhas e cascas do fruto, e matérias ‘estranhas’, por exemplo, grãos ou sementes de outros vegetais. Cafeteira italiana ao lado de grãos de café torrado
Skyradar/Pixabay
Mais 17 lotes de marcas de café foram considerados impróprios para o consumo, segundo o Ministério da Agricultura. A lista dos produtos vetados foi divulgada na última sexta-feira (2). Eles se somam a outros 24 lotes que tinham sido barrados em julho.
Todos foram desclassificados depois da “detecção de matérias estranhas e impurezas ou elementos estranhos” acima do limite permitido (veja mais abaixo as marcas citadas).
O café até pode conter mais coisas do que… café. Mas a lei limita o que e a quantidade.
A legislação brasileira permite que o produto possua até 1% de impurezas naturais do café (como galhos, folhas e cascas) e matérias estranhas (por exemplo, grãos ou sementes de outras espécies vegetais, pedras e areia).
Quando o alimento comercializado apresenta uma porcentagem maior desses elementos, ele é considerado fraudado. Confira abaixo as definições.
Além de café: veja o que pode estar no pacote do produto
Bruna Rocha / arte g1
Enquanto as impurezas podem estar no café de forma acidental, os elementos estranhos são adicionados intencionalmente para falsificação, afirma o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) do Ministério da Agricultura, Hugo Caruso.
Café impróprio
Entre os lotes classificados como impróprios pelo Ministério da Agricultura, estão os produtos das seguintes marcas:

O g1 procurou as marcas citadas pelo Ministério da Agricultura e aguarda posicionamento. Não foram encontrados os contatos de Café Dona Filinha, Café Ivaiporã, Café Serra do Brasil, Café Cambeense e Café Góes Tradicional a vácuo.
A marca Café do Norte já tinha sido citada entre as que tiveram produtos reprovados em julho, quando o ministério listou 24 lotes de café impróprio. Eles foram encontrados depois da Operação Valoriza, de fiscalização, realizada em março em todo o país.
Como é a análise
Atualmente, a detecção de impurezas e matérias estranhas no café comercializado é feita por meio de análises com microscópio. Contudo, Caruso aponta que esse processo precisa de melhorias para ser mais assertivo. “Pode ter uma diferença grande quando a gente pega 1% de impureza, pode ser na realidade que tenha 2% ou até 3%”, diz.
Ele afirma que, apesar de considerar a metodologia boa, ela depende de qual é a matéria adicionada ao café e quais foram os pontos de torra e da moagem, que podem mascarar as irregularidades se forem mais intensos.
Na regra, o café pode ter até 360 defeitos em 300g. Contudo, cada irregularidade tem um peso diferente. Confira na tabela abaixo.
Café pode ter até 360 defeitos em 300g
Wagner Magalhaes / Arte g1
Essa metodologia de medição foi desenvolvida há 100 anos, para a comercialização do fruto na bolsa de Nova York (EUA).
“O que a gente já percebeu em algumas torrefadoras que nós fomos é que as empresas estavam torrando café com 1.000 defeitos, 1.200 defeitos”, diz o diretor do Dipov, Hugo Caruso.
Leia também: Como ler rótulos de cafés e o que levar em conta na hora de escolher o produto
Impurezas camufladas
Existem equipamentos no beneficiamento de café que já permitem a separação de impurezas do grão bom. É assim que o tipo especial consegue ser 100% sem defeitos.
Nesses filtros, são separados o café ardido (que está passado) e o preto (que já apodreceu).
Na legislação brasileira, não é permitido um número muito grande destes grãos. Em uma amostra de 300g, podem ser encontrados apenas 50 grãos desse tipo. Contudo, quando eles são bem torrados e moídos, são difíceis de serem identificados, uma vez que ainda se trata de café.
O que acontece é que existem torrefadoras que vendem o fruto bom para a indústria e resolvem aproveitar os impróprios para produzir o pó.
“O que [os fraudadores] fazem é acabar torrando, aí geralmente é bem forte, extraforte, para tentar mascarar esse gosto ruim. O ardido e o preto, eles podem ter uma contaminação de fungos que pode trazer alguns problemas de saúde”, explica Caruso.
Por esta razão, a Portaria nº 570 estabelece que, a partir deste mês, a embalagem dos alimentos deve informar o grau da torra.
“Para que o consumidor comece a perceber que o café, quando é muito escuro, muitas vezes é utilizado como forma de esconder os defeitos”, explica o diretor do Dipov.
“Quando você torra muito escuro, [o café] vira um carvão, então tanto faz se é uma casca ou se é um café ou se é um milho, fica tudo igual”, completa.
Existem três tipos de torra:
clara, que entrega uma bebida com acidez, doçura e menos amargor;
média, se trata de um café com mais equilíbrio, com notas mais caramelizadas, mas sem tanto amargor ou acidez;
escura tem mais amargor, menos doçura e menos acidez.
“Geralmente, um torrefador que tem um café de alta qualidade, ele não vai torrar ele que nem um carvão, porque ele vai perder o sabor, vai perder a qualidade. Se ele pagou caro naquele grão, ele vai procurar uma torra mais clara ou média, para poder realçar o seu sabor”, diz.
Pensando nisso, Caruso pensa que a próxima etapa de identificação de fraudes é acrescentar a análise sensorial ao café, que pelo sabor permite que a fiscalização perceba se há algo de errado no produto. Essa metodologia seria acompanhada de uma análise química, que permitiria identificar toda a composição do pó.
Este processo já é aplicado para identificar fraude em outros produtos, como o azeite.
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