Em busca do Sucesso

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O g1 conversou com a pesquisadora Denise Alves do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq-USP em Piracicaba sobre as espécies. Espécie de abelha ‘Epicharis’ do maracujá doce
Cristiano Menezes/Reprodução Fototeca/Arquivo pessoal
Pode até parecer estranho, mas a maioria das espécies de abelhas não produz mel, tampouco vive em sociedade, nas colmeias e em enxames, ou tem contato entre suas gerações. É o que explicam os entomologistas, especialistas em insetos. A verdade é que, dentre as cerca de 20 mil descritas, a maioria, aproximadamente 80% delas, são chamadas de solitárias e vivem em centros urbanos.
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“A grande maioria das espécies desse inseto, na verdade, é composta pelas abelhas solitárias. No Brasil , não é diferente. Elas têm um ciclo de vida de alguns dias ou semanas e não têm contato com a sua cria”, aponta a bióloga pesquisadora, doutora em ecologia, Denise A. Alves, do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).
Denise explica que, depois de se acasalar com o macho, procura um local para fazer seu ninho sozinha.
“Essa espécie faz todas as tarefas do ninho sozinha. Vai em busca de alimento em diversas viagens. Leva esse alimento ao ninho até formar quantidade adequada para que a cria se desenvolva. Quando consegue uma carga ideal, põe o ovinho”, descreve Denise.
Depois, constrói um tipo de ‘paredinha’. “Quando a abelha solitária termina esse processo dentro de um ou alguns poucos ninhos, ela morre. Não tem contato com essa cria, porque o ovo vai passar para fase de larva, essa larva vai consumir o alimento que a mãe depositou ali”, explica.
A larva, então, vai se transformar em uma pupa e depois transforma num adulto que vai nascer e vai começar o ciclo novamente. Conforme a bióloga, o adulto não conhece a mãe. Por isso, é chamada abelha solitária.
Quando adulta, o único contato que a abelha solitária tem tem na vida com outro indivíduo adulto são as interações nas flores com outros.
As abelhas solitárias não produzem mel. Porém, desempenham função importantíssima ao ambiente e à agricultura ao fazerem a polinização quando visitam as flores em busca de néctar e pólen.
Espécie de abelha solitária Eulaema nigrita
Cristiano Menezes/Fototeca/Arquivo pessoal
De acordo com a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas, existem “espécies bastante distintas entre as solitárias”, uma das mais famosas é a mamangava-de-toco (gênero Xylocopa), grupo em que as fêmeas são grandes e, geralmente, pretas. Os machos são marrons-alaranjados, muitas vezes confundidas com besouros.
Além da mamangava, há as de colorações azuis ou verdes metálicas que polinizam orquídeas e as abelhas-de-óleo que, como diz o próprio nome, buscam óleos em flores em substituição ao néctar como fonte energética.
Na lista das principais espécies de abelhas solitárias listadas no Brasil, destacam-se: Centris aenea, Centris analis, Centris tarsata, Eulaema cingulata, Eulaema nigrita, Epicharis flava, Xylocopa frontalis, Xylocopa grisescens e Xylocopa suspecta.
“Com mais de 20 mil espécies de abelhas, ao todo, descritas no mundo cerca de 10% está no Brasil. Um dos países com maior diversidade desses insetos essa alta diversidade se reflete na ampla variedade de hábitos de vida, tamanhos, cores e comportamentos”, descrevem os pesquisadores em publicação organizada pelo especialista, Cristiano Menezes.
Abelhas sem ferrão: as nativas brasileiras
A mais conhecida no território brasileiro, entretanto, não é nativa do país. Chama de abelha africanizada, é a mais criada para produção de mel, “traz as introduções realizadas em diversos momentos e regiões a partir do século 19 e também a sua alta capacidade”, explicam os autores.
A publicação intitulada “Abelhas sem ferrão relevantes para a meliponicultura no Brasil” oferece fichas catalográficas com informações sobre as 60 espécies mais relevantes, a partir de uma centena delas manejadas no no país e presentadas no Catálogo Nacional de abelhas nativas sem ferrão.
A pesquisadora Denise Alves listou algumas de abelhas sem ferrão, mencionadas como as mais populares no Brasil. Veja abaixo, os nomes populares e científicos.
Jataí: Tetragonisca angustula
Irapuá: Trigona spinipes
Mandaçaia: Melipona quadrifasciata
Uruçu nordestina: Melipona scutellaris
Uruçu amarela: Melipona flavolineata
Uruçu Cinzenta: Melipona fasciculata
Jandaíra: Melipona subnitida
Canudo/Mandaguari: Scaptotrigona depilis
Monduri: Melipona mondury
Marmelada amarela: Frieseomelitta varia
Na região de Piracicaba
Confira lista de abelhas sem ferrão mencionadas como as mais populares na região de Piracicaba
Jataí: Tetragonisca angustula
Canudo: Scaptotrigona depilis
Irapuá: Trigona spinipes
Marmelada: Frieseomelitta varia
Boca de Sapo: Partamona helleri
Mirim-preguiça: Friesella schrottkyi
Mirins: Plebeia spp. (espécies do gênero Plebeia)
Borá: Tetragona clavipe
Iraí: Nannotrigona testaceicornis
Polinizadoras ‘profissionais’: abelhas impactam na produção agrícola

As abelhas, por serem os principais agentes polinizadores, impactam diretamente na quantidade e a qualidade da produção agrícola. Segundo pesquisadores, elas são conhecidas como ‘polinizadoras profissionais’ por serem adaptadas exatamente para esse objetivo.
Além disso, esses insetos fazem o elo entre produção agrícola e conservação ambiental. “As abelhas estão na interface da biodiversidade e da agricultura”, conforme explica Denise.
A existência de culturas agrícolas como a da soja, café, laranja, melancia, maracujá, girassol, e cacau, por exemplo, dependem em algum grau das abelhas, enfatiza a especialista.
Denise destaca a relevância da manutenção da diversidade das abelhas no Brasil e no mundo. “As abelhas nos asseguram a produção, também a segurança alimentar e o nosso bem-estar, principalmente por conta da biodiversidade”, ressalta.
Dia Nacional das Abelhas
Nesta terça-feira (3) é celebrado o Dia Nacional da Abelha. O g1 Piracicaba e região conversou com pesquisadores sobre a importância da espécie, por serem os principais agentes polinizadores, na produção de alimentos e quais riscos afetam a preservação desses insetos.
Em alguns casos, o aumento no rendimento da produção de café pode chegar a 28% com a existência de abelhas no ecossistema. 👇Veja exemplos na reportagem.
A pesquisadora explica que polinização nada mais é do que a transferência de pólen da estrutura masculina da flor para a estrutura feminina de outra flor ou da mesma.
A polinização mediada pelas abelhas é de extrema importância para diversas culturas agrícolas.
“No mundo, estima-se que que 85% de importantes culturas agrícolas são polinizadas pelas abelhas. Entre elas, estão os alimentos, as plantas que são usadas como medicamentos; e até o biocombustível, como o girassol, a canola, a mamona. Sem falar das fibras, como algodão, e de materiais de construção, como por exemplo, a madeira”, ressalta Denise.
A produção do maracujá, especialmente, depende 100% das abelhas. “Sem abelha, não tem maracujá. Na produção do café, a inexistência de abelhas podem significar uma redução de 28%. A dependência de polinizadores é variável, mas também inegável a importantes culturas agrícolas no Brasil”, analisa.
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🐝Qualidade aos alimentos e lucro aos produtores
Quando se fala de polinizadores, se fala das abelhas, enfatiza a pesquisadora.
A bióloga explica que, além de aumentar a produção agrícola, em termos de quantidade, a polinização bem realizada por essas abelhas resulta também em frutos com maior valor estético, com frutos maiores e mais vistosos, com coloração mais intensa, com mais micronutrientes, como vitaminas e minerais.
O produtor, por sua vez, pontua Denise, tem uma maior quantidade de suas culturas e também maior valor agregado – incluindo os aspectos nutricionais e estéticos.
“Isso confere também maior lucro para os produtores. Quando as abelhas estão presentes nos sistemas agrícolas, o produtor tem uma maior quantidade de suas culturas e também maior valor agregado em relação a aspectos nutricionais e estéticos, além da durabilidade na prateleira”, afirma.
Espécie ‘Centris’ fêmea fechando o ninho
Cristiano Menezes/Fototeca/Arquivo pessoal
No mundo, segundo Denise, o serviço de polinização foi estimado em 390 bilhões de dólares por ano. No Brasil, é de 12 bilhões de dólares por ano. “Então, 30% do nosso rendimento agrícola, da nossa receita agrícola, vêm das atividades das abelhas nas culturas”, analisa.
“”No Brasil, das 140 culturas que dependem de polinizadores, analisadas em estudo, 85 delas dependem das abelhas. A atividade de polinização contribui com 30% do rendimento agrícola”, afirma.
Em outra estimativa mais recente, publicada em 2019, quando se considerou apenas os alimentos, o valor da polinização correspondeu a R$ 43 bilhões por ano, conforma ressalta a especialista.
“Considerando que 30% da nossa receita agrícola vêm da atividade de polinizadores, é importante pensarmos em como o produtor lida com a questão no planejamento de suas práticas nas propriedades agrícolas”, observa. “Ter abelhas também significa ter uma paisagem adequada e práticas agrícolas amigáveis a esses polinizadores”, enfatiza.
Os produtores precisam considerar a importância de suas práticas. “Usar as menos intensivas, de menor impacto na manipulação no ambiente, devendo deixar plantas que são usadas pelas abelhas no entorno e mesmo dentro das suas propriedades”, alerta.
“Quando temos fragmentos florestais [áreas de mata] perto ou dentro das propriedades agrícolas, temos alimento para esses polinizadores e local para eles morarem”, afirma.
🐝Risco à existência das abelhas
Em relação aos riscos à existência das abelhas, a pesquisadora aponta que as ameaças aos polinizadores são diversas e listou algumas como:
Desmatamento, que tem como uma das consequências a diminuição da quantidade de ninhos
Mudanças climáticas
Uso indiscriminado de agrotóxicos, como inseticidas, herbicidas e fungicidas
Extensas monoculturas com práticas agrícolas muito intensivas
Introdução de parasitas e agentes que causam doenças
Consequências

Como consequência da diminuição das populações das abelhas, alerta Denise, são previstas baixas a toda cadeia produtiva e também de consumo, pelo encarecimento do alimentos e demais itens ao consumidor nas prateleiras, em resultado de um recuo na produção, somado ao próprio setor de criação de abelha e também à indústria.
“Concomitantemente, haverá também a redução dos lucros para os produtores. Esse é o impacto direto, mas também tem um indireto, por exemplo, no alimento processado. É toda uma cadeia produtiva que vai ser afetada”, analisa.
Além disso, o declínio de polinizadores, pensando em abelhas manejadas, impacta as economias rurais. “Por exemplo, a própria criação das abelhas, para a apicultura e meliponicultora no Brasil e de seus produtos, com impacto financeiro à venda do mel, da própolis e da cera”, finaliza.
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